Presente em 20 localidades por todo o país, o Café Memória proporcionava, mensalmente, uma oportunidade de convívio e aprendizagem para as pessoas com demência e os seus cuidadores. Em tempos de pandemia, o projeto teve de se adaptar.
De há sete anos para cá, era ao sábado de manhã que, alternadamente, os vários Cafés Memória de todo o país proporcionavam aos seus participantes um momento não só de socialização e partilha de experiências, mas também de cedência de informação útil, através da presença de profissionais ligados à demência, sempre num registo informal e sob um véu de segurança e proteção, criando uma espécie de espaço seguro.
Como tantas outras iniciativas, o Café Memória teve de cessar as sessões presenciais e recorrer ao online – adaptação que se tornou “essencial”, segundo Catarina Alvarez, coordenadora da iniciativa. “Depois da suspensão do atendimento presencial, começámos a falar com os participantes por chamada, por Whatsapp ou como podíamos, e notámos que as sessões faziam realmente falta a muitos deles.”
O Café Memória é um projeto que prima pela cumplicidade e atenção pessoal e, como tal, cada uma das vinte equipas foi contactando os participantes da sua localidade para transmitir a boa nova – as sessões estavam de volta, agora semanais, por videochamada e abertas a toda a gente, num novo formato apelidado de “Café Memória Fica em Casa”. Espalhada a palavra, logo na primeira sessão, a 18 de abril, a adesão foi tal que a sala da plataforma Zoom atingiu a sua capacidade. “Não estávamos à espera de ter tanta gente. As pessoas queriam entrar e já não conseguiam, tivemos logo de aumentar o nosso plano”, disse Catarina Alvarez, por entre risos.
De facto, na segunda sessão, o aumento do plano mostrou-se vantajoso. Às 11h de sábado, dia 25 de abril, os números da sala online aumentavam a olhos vistos, assim como as mensagens de bom dia no chat escrito, ao lado. À medida que os participantes apareciam, a equipa de Viana do Castelo, responsável pela sessão, pedia a cada um que se apresentasse – nome e local. De norte a sul do continente, passando pelas ilhas e até por Espanha, eram várias as caras conhecidas da organização e outras tantas a aproveitar o novo formato para participar pela primeira vez. “É mesmo este o nosso objetivo – chegar a mais gente e fazer com que esta rede seja ainda mais próxima do que antes”, salientou Patrícia Sousa, da equipa vianense.
Feitas as apresentações, e já com cerca de 150 pessoas ligadas, introduzia-se a temática da adaptação ao ambiente em casa, com a ajuda da psicóloga clínica Ana Costa. Durante a fase de pandemia, prevê-se que todos os temas tratados nas sessões sejam relativos ao ajuste à mesma. “Já era comum para as pessoas com demência e problemas de memória passar mais tempo em casa e essa condição só se agravou agora”, disse Catarina Alvarez, acrescentando que faz parte do compromisso do Café Memória “continuar a ajudar estas pessoas, proporcionando-lhes um contacto próximo e uma experiência única.”
Aquando da intervenção de Ana Costa, vão sendo deixadas perguntas e discutem-se ideias no chat, promovendo o convívio do formato tradicional. Com o relógio quase a tocar no meio-dia, a marcar o final da hora de sessão, são dadas respostas e conselhos e é frisada a disponibilidade tanto da profissional como da equipa para ajudar no que for preciso, pós-sessão. De câmaras e microfones ligados, com um sorriso na cara, todos dizem adeus ou um “até para a semana”.
Da organização fica a certeza de que o novo formato, apesar de ter surgido como adaptação, tem vindo a trazer benefícios. “No modelo tradicional, as pessoas participavam apenas aquela vez por mês na sua localidade, agora, apesar de bastante diferente, dispõem de acompanhamento semanal”, destacou Catarina Alvarez.
Prevê-se que o formato se mantenha até ao final de agosto. Até lá, as sessões do Café Memória vão continuar a acontecer todos os sábados, das 11h às 12h, e qualquer um pode participar.
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